Brasil: La disputa que no va a existir |
Ago-10-10 - por Murillo de Aragão As eleições de 2010 reproduzem com um pouco menos de intensidade o fenômeno verificado em 2006, quando Lula foi reeleito: a massa de eleitores de um lado e a mídia impressa de outro. Naquela época, o Mensalão era o grande divisor de águas, e a imprensa exercia impiedosa marcação sobre o lamentável processo de depauperação na política nacional. Hoje não temos o Mensalão para estimular a marcação, mas os oitos anos de Lula desgastaram sua relação com a imprensa. Paradoxalmente, no entanto, sua relação com o povo é das melhores. Uns podem até pensar que vale a pena desagradar à imprensa e agradar ao povo. De certa forma, é assim que está funcionando hoje. Enquanto Lula navega em elevada popularidade, o noticiário trata de temas velhos ou, até mesmo, incompreensíveis para a massa, como a questão do aparelhamento do Estado. Na lista dos temas velhos ressurge a alegada ligação do PT com as Farc, ou o radicalismo do partido, que, segundo alguns, pode aparecer com vigor em um eventual governo Dilma. A questão dos dossiês também está de volta, mas sem a energia de antes: um dossiê ia ser feito e terminou não existindo; e, mais recentemente, uma denúncia de possível tráfico de influência da filha de Mantega. Nada, porém, parece afetar o ânimo do cidadão, que aprova, com sobras, o desempenho do governo e atribui a Lula o título de presidente mais popular da história. Nesse cenário, temos uma situação paradoxal. De um lado, a agressividade do noticiário contra a política do governo. De outro, o dever de noticiar o bom momento econômico. O quadro de paradoxos é completado com a ausência de um discurso claro da oposição. Como se esta, de verdade, só existisse na mídia impressa, que exerce o papel de consciência crítica da nação.
Isso posto, o que vai acontecer? A princípio, nada. A disputa entre a imprensa e o governo tende a não ser relevante na formação da opinião eleitoral do cidadão que vota. Tanto pelo ambiente de sucesso econômico e avanço social quanto pelo pouco impacto da mídia impressa junto ao eleitorado.
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